Com a chegada do calor e férias muitas pessoas procuram áreas de vegetação para descansar e estar em meio à natureza. Pensando nisso, o biólogo e professor Sérgio Bazilio alerta e orienta sobre os cuidados para evitar acidentes envolvendo taturanas.

Para começar, o biólogo explica que o termo “Taturana” vem do Tupi e significa “semelhante ao fogo” e geralmente está relacionado a um grupo de lagartas que também são conhecidas como Bicho cachorrinho / Bicho cabeludo / Mandorová. Lagartas é o estágio larval dos insetos pertencentes à ordem dos lepidópteros, que posteriormente vão se transformar em mariposas ou borboletas. Geralmente essas lagartas apresentam cerdas/pelos que podem ser alguns a muitos podendo recobrir todo seu corpo. A função dessas cerdas é para proteção de possíveis predadores, que geralmente são aves. Essas cerdas podem liberar algumas toxinas/venenos que podem bastantes prejudiciais para os seres humanos.
Conforme ele, as principais lagartas que causam acidentes é a Lonomis obliguia (Lagarta fogo ou Lagarta que mata) e Podaliaorsilochus (Bicho cachorrinho, bicho peludo e mandorová).
O biólogo explica que a A Lonomia obliguia (Lagarta fogo ou Lagarta que mata) geralmente possui pelos que são da cor esverdeada no formato de pequenos pinheirinhos e Podaliaorsilochus (Bicho cachorrinho, bicho peludo e mandorová) geralmente seus pelos são compridos amarronzados/tons de marrom e chegam a cobrir toda a lagarta. Nos pelos das lagartas quando tocados/batidos observamos pequenas gotas de toxinas amareladas, esverdeadas ou incolor na sua parte superior.

As pessoas geralmente tocam ou esmagam as lagartas/taturanas acidentalmente e os principais locais de contato são os membros (mãos, braço e pernas) podendo ocorrer contatos com o pescoço e a cabeça. Geralmente logo após o contato as pessoas sentem uma dor intensa e imediata, semelhantes à queimadura que pode ou não se espalhar pelo local. Entre os principais sintomas incluem náuseas, vômitos e dor de cabeça. Em casos graves, especialmente com a Lomonia obliqua pode ocorrer sangramentos espontâneos (gengiva, nariz) podendo levar a insuficiência renal aguda.
“Esses sintomas podem em variar em função de uma série de fatores, tais como; idade, peso, situação do sistema imunológico e principalmente do ‘grau de alergia’. Sendo geralmente mais fortes os sintomas em crianças, idosos, pessoas com sistema imunológico comprometido e pessoas com alergias”, explica o biólogo.
Em que local e como elas vivem?
Ambas as lagartas se alimentam de folhas e vivem em florestas nas zonas rurais, mas pode ser encontradas nas zonas urbanas, especialmente em árvores frutíferas como caquizeiros, pessegueiros, ameixeiras, abacateiros, goiabeiras, além de outras espécies como o ipé, cedro e aroeira.

“As Lagartas fogo geralmente estão camufladas durante o dia nos troncos formando pequenas colônias e no início da noite saem enfileiradas para se alimentar das folhas na parte superior da árvore e antes do amanhecer voltam para o tronco ficando todas juntas novamente. As Lagartas cachorrinho podem ser vista em diferentes locais, como jardins, quintais e áreas arborizadas se alimentando de folhas”, detalha.
O que fazer se tiver contato com uma taturana?
“É importante manter a calma e fazer o reconhecimento pelas características do animal e logo após é indicado lavar e realizar compressa gelada no local do contato e procurar uma unidade de saúde caso a dor seja intensa”, orienta o biólogo Sérgio Bazilio.

“Se o acidente for com a Lagarta que têm pelos em formato de pinheirinho tente tirar uma foto do exemplar e siga para uma unidade de pronto atendimento, onde os profissionais de saúde devem buscar a confirmação se o acidente foi ou não provocado por Lonomia.”
Em casos positivos, de acidentes com Lonomia, inicia-se uma série de protocolos para acompanhar a evolução do quadro. O primeiro passo é realizar uma coleta de sangue e verificar a coagulação do paciente. Mesmo que esteja tudo certo, o recomendado é que a pessoa permaneça em observação entre 6 e 12 horas. Se houver alterações que indiquem que há envenenamento sistêmico no período, é feita a administração do soro antilonômico, que neutraliza os efeitos do veneno.
“Quanto mais tempo demorar em procurar recursos à situação se agrava, a dor começa com dor em queimação, irritação local, vermelhidão e inchaço leve. Depois, algumas pessoas podem apresentar dor de cabeça, náuseas e vômitos, seguidos por sangramentos na gengiva, nariz e urina, além do aparecimento de manchas arroxeadas pelo corpo. Esses são sintomas extremamente preocupantes e indicam a necessidade imediata de atendimento médico”, alerta o professor.
O que acontece se não houver tratamento?
“Pode levar a morte no caso das Lagartas de fogo e no caso da Lagarta cachorrinho a pessoa se recupera se não for alérgica.”
Alguns dados importantes:
Casos de acidentes com Lonomia obliqua no Paraná
Período 1989-2001: Um estudo que analisou os dados da Secretaria de Estado da Saúde (SESA) do Paraná mostrou que ocorreram 5.673 acidentes e 21 mortes por Lonomia obliqua em toda a região Sul do Brasil. O Paraná foi uma das áreas de maior concentração desses casos, principalmente no centro-sul, sudeste e sudoeste do estado.
Período 2015-2019: Pesquisas mais recentes indicam que 84 acidentes com Lonomia sp. foram registrados no Paraná nesse período. A maioria dos casos ocorreu em áreas rurais e na macrorregião Oeste, com maior incidência no verão.
Casos pontuais:
2008: Foram registrados 38 casos e uma morte.
2009: A Secretaria de Saúde do Paraná registrou 12 casos, conforme noticiado pela imprensa.
Acidentes com Podaliaorsilochus
Não foram encontrados registros públicos ou estudos epidemiológicos que detalhem o número de acidentes causado pela lagarta Podaliaorsilochus no Paraná. Isso está em partes relacionado à menor toxicidade dos acidentes, sendo que essa lagarta causa reações alérgicas ou irritativas menos graves, e os acidentes com ela geralmente não são notificados de forma sistemática nos boletins epidemiológicos do mesmo modo que os casos de lonomismo.
Sobre Sérgio Bazilio.
Graduado em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (1992), possui mestrado em Ciências Biológicas (Entomologia) pela Universidade Federal do Paraná (1997) e doutorado em Engenharia Agrícola pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (2014). Atualmente é professor adjunto do Curso de Ciências Biológicas da Universidade Estadual do Paraná – UNESPAR – Campus de União da Vitória. Integra grupos de pesquisa da UNESPAR e UNICENTRO, faz parte do conselho consultivo de várias Unidades de Conservação Paranaense e Catarinense. Coordena e executa projetos de pesquisa de fauna. Tendo experiência na área de Zoologia, Ecologia e Biologia da Conservação atuando com ênfase em vertebrados, atuando principalmente nos seguintes grupos: Ictiofauna, Herpetofauna, Avifauna e Mastofauna, Biodiversidade e Conservação e Recursos Hídricos.















