/“Me tornei frio, mas jamais insensível”, afirma Gilson dos Anjos, aposentado após 17 anos de trabalho no IML de União da Vitória

“Me tornei frio, mas jamais insensível”, afirma Gilson dos Anjos, aposentado após 17 anos de trabalho no IML de União da Vitória

O trabalho cinzento o deixou frio. Não haveria como ser diferente. A rotina, como qualquer outra, pesa e cansa. Mas, para Gilson dos Anjos, 63, cujo sobrenome parece ter sido uma predestinação, os corpos recolhidos e trazidos até o Instituo Médico Legal (IML), nunca foram apenas corpos: eram histórias.

Ali estavam almas já em descanso, ora vitimas de acidentes, de tragédias dentro de casa, ora por decisão do próprio indivíduo. O respeito ao luto, por quem foi e por quem ficou, talvez seja a maior marca deixada pelo agora, aposentado funcionário da Polícia Científica do Paraná. Foram 17 anos de trabalho.

Apaixonado pela resolução de crimes, Gilson escolheu o IML como carreira e ao longo da carreira pode entender como realmente as peças se encaixavam. O profissional atuou na chefia da instituição por dez anos e teve como mentor, como gosta de dizer, o legista Carlos Eduardo Moura.

No entanto, muito mais do que cenários típicos aos livros de Sidney Sheldon ou de Agatha Christie, ambos recheados de mistério policial e casos mal resolvidos, Gilson se deparou com imagens de profundo impacto.

“Acidentes, homicídios, suicídios, muita tristeza. Nessa profissão, me tornei mais frio, queira ou não, mas não insensível”, sublinha.

Em decorrência de um infarto que sofreu em 2021, Gilson iniciou seu processo pela aposentadoria. E ela chegou: a partir de dezembro deste ano, o servidor encerra suas atividades no IML. Conhecido pelo grande coração, deixa o trabalho exatamente pelo motivo que o rotulou a vida toda.

“Fiquei afastado um tempo, o médico não permite esforços. Meu coração está dilatado, funciona em 25%, preciso baixar meu ritmo e viver o máximo possível”, diz.

E o que aprendeu da longa jornada em um trabalho tão delicado? A mensagem de aprendizado soa como um pedido aos colegas de trabalho.

“Continuem tentando amenizar a dor do outro. É uma dor imensa que não tem fim, mas sempre tentamos fazer o máximo e rápido, para causar o menos transtorno possível”.

O tempo, que cura tudo, como ensina o velho ditado, será a companhia de Gilson, homem de coração grande e de amor pela vida.